J. Krishnamurti, filósofo e
espiritualista indiano, diz no livro Aos
pés do mestre (Pensamento: 1993) que no mundo existem apenas duas classes
de indivíduos: os que possuem conhecimento e os que não o possuem. O
conhecimento a que ele se refere é o conhecimento de que todos fazemos parte de
um grande esquema de evolução cósmica.
Para os que se
iniciam nas veredas desse conhecimento são sugeridas algumas rotas. Entre elas
a do cultivo da tolerância. A tolerância brota como consequência natural da
compreensão do processo evolutivo. Não é uma postura de conivência, nem
tampouco a tentativa de eximir as pessoas das responsabilidades assumidas
diante dos problemas da vida.
O que mais
caracteriza o ser tolerante é o fato de manter-se fiel às ideias que, em
determinado momento, lhe parecem acertadas e não descartar as ideias alheias. É
colocar-se nas diversas situações existenciais de modo a ver as coisas do ponto
de vista dos outros e, a partir daí, ajudar e também aprender.
Em tese, é
assim que todos gostariam de proceder. No entanto, o que se vê com mais
frequência, nas paisagens do viver terreno, é o divórcio entre o discurso e a
prática. A raiz desse contraponto reside em que, até nos autojulgamentos, as
pessoas se fixam em critérios de rigidez absoluta. Esquecem o processo
evolutivo, escudam-se num falso bom-senso e adotam a retórica do autoengano.
René
Descartes, filósofo e matemático francês, afirma, logo no início do seu Discurso do método (Abril Cultural:
1973), que "O bom-senso é a coisa do mundo melhor partilhada, pois cada qual pensa
estar tão bem provido dele, que mesmo os que são mais difíceis de contentar em
qualquer outra coisa não costumam desejar tê-lo mais do que o tem".
É assim que,
na maioria dos casos, as pessoas se julgam, independentemente das considerações
de natureza evolutiva.
A
intolerância, na verdade, grassa em todos os setores e, paradoxalmente, é, nas
organizações e grupos que lidam com o aspecto transcendente da vida, onde mais
se pugna por uma convivência pacífica, que proliferam, com maior intensidade,
os vibriões do desentendimento.
Às vezes,
propostas nobres de um viver fraterno, com base na magnanimidade de pessoas bem
intencionadas, se esvaem nos labirintos de interesses pessoais, nos medos e em
ferozes disputas por glórias efêmeras. O curso da história humana está cheio
desses casos.
O saber se
amplia a cada instante e ninguém é portador de toda a verdade. Por isso, é
preciso cautela com o autoritarismo. O isolamento em guetos de saberes
absolutos conduz à intolerância e alimenta a compulsão de líderes psicopatas
pelo poder. Poder que se espraia por todos os campos. Desde a área econômica,
puramente material, até o reino do psiquismo, congelando a liberdade de pensar.
As opiniões
diferentes e as ideias conflitantes são inerentes ao processo de crescimento
humano. Podem e devem ser administradas com respeito e entendimento, pois o que
se pensa estar certo em uma fase da vida, frequentemente, revela-se incorreto
em outra.
A tolerância,
quando exercida com sabedoria e sinceridade, sem os excessos das concessões
demagógicas, facilita as inter-relações, proporciona melhor visualização das
questões e apara as arestas das discórdias. É um exercício que estimula a
mobilização de outras virtudes e conduz o ser humano a se alinhar aos
propósitos mais elevados de sua natureza transcendental.
Abraços a todos.
Até a próxima.
Lazaro Moreira Cezar.